Cícero Marcelino, sócio-administrador do Terra Bank, é investigado pela Polícia Federal por suposto envolvimento no esquema de desvios da Conafer, que causou a queda de importantes nomes do governo federal.
O escândalo que abalou o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e culminou na demissão do presidente da autarquia e do ministro da Previdência tem um novo personagem central: Cícero Marcelino, sócio-administrador do banco digital Terra Bank, voltado para o agronegócio. A Polícia Federal (PF) o aponta como um dos principais operadores da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer) no intrincado esquema de fraudes que lesou o instituto em cifras bilionárias.
As investigações da PF, que deram origem à Operação Sem Desconto, deflagrada em abril, foram impulsionadas por uma série de reportagens do portal Metrópoles, que desde dezembro de 2023 expôs o crescimento vertiginoso da arrecadação de diversas entidades por meio de descontos nas mensalidades de aposentados – um montante que alcançou R$ 2 bilhões em apenas um ano. Paralelamente a esse aumento expressivo, essas mesmas organizações acumulavam milhares de processos por suspeita de filiações fraudulentas de segurados.
O Terra Bank, lançado durante a ExpoZebu de 2022 em Uberaba (MG), direciona seus serviços a produtores e empreendedores rurais, prometendo transparência, simplicidade e isenção de tarifas na maioria de suas operações. Em seu material de divulgação, a instituição se apresenta como um parceiro do agronegócio, oferecendo contas de pagamento digital eficientes e acessíveis.
Nos registros oficiais do banco, Cícero Marcelino figura como administrador da sociedade que engloba a T.B Holding. Esta, por sua vez, tem como sócios o próprio Cícero e a Farmlands Holding LLC, uma empresa com sede em Delaware, nos Estados Unidos, conhecido por suas regulamentações empresariais e tributárias mais flexíveis.
Um elo importante na investigação é a parceria firmada em 2022 entre o recém-lançado Terra Bank e a Conafer, justamente a entidade que se encontra no centro das apurações sobre os descontos irregulares de aposentados e pensionistas. Documentos da Operação Sem Desconto indicam que Cícero Marcelino atua como assessor do presidente da Conafer, Carlos Ferreira Lopes, sendo apontado pela PF como um dos articuladores do esquema dentro da confederação.
O objetivo da colaboração entre o banco digital e a Conafer era facilitar o acesso dos associados a recursos financeiros, linhas de crédito e empréstimos, enquanto a entidade auxiliaria na atração desses clientes para o banco. Em março deste ano, a Conafer chegou a anunciar em seu site uma parceria bilionária com o Terra Bank, com a promessa de financiar R$ 5 bilhões em projetos de melhoramento genético e ampliar o acesso de produtores rurais a genética bovina de ponta.
As investigações da Polícia Federal revelam que o nome de Cícero Marcelino aparece em diversas transações financeiras consideradas suspeitas de lavagem de dinheiro. Uma dessas transações envolve José Laudenor, sócio de José Carlos Oliveira, que ocupou o cargo de ministro da Previdência no governo de Jair Bolsonaro. Outra movimentação suspeita связывает Cícero à cunhada de um servidor do INSS, Jobson de Paiva Sales. Embora o servidor não tenha recebido valores diretamente, a PF identificou repasses do assessor da Conafer para a irmã de sua companheira, que também trabalhou na confederação.
Em um trecho da representação da PF, os investigadores destacam que "a ligação entre Cícero Marcelino e a rede de associações sugere que este indivíduo e suas empresas possam ser mais uma peça no esquema de desvios de recursos do INSS. Além do mais, a movimentação de recursos de volta ao remetente sugere um possível ciclo de lavagem de dinheiro, no qual os valores recebidos podem estar sendo redirecionados para camuflar a verdadeira origem dos recursos". As revelações da Operação Sem Desconto continuam a expor as ramificações de um esquema que impactou a gestão da previdência social no país.