TEL AVIV, ISRAEL – A incessante barragem de mísseis iranianos está colocando à prova a robusta defesa aérea de Israel, com uma preocupação crescente sobre a sustentabilidade de seu escudo protetor. Fontes americanas, em declarações ao Washington Post, revelaram que os estoques de mísseis interceptadores de Israel podem durar por apenas mais 10 a 12 dias, caso o ritmo atual dos ataques iranianos seja mantido. A imagem familiar de mísseis iranianos sendo interceptados nos céus israelenses, uma constante nos primeiros dias do conflito, tem se tornado uma cena cada vez mais rara.
A vulnerabilidade dos sistemas defensivos israelenses é um conhecimento antigo para os Estados Unidos, que, há meses, têm enviado reforços por terra, mar e ar. No entanto, o cenário atual gera apreensão até mesmo entre os aliados, que temem o comprometimento de seus próprios estoques. "Nem os EUA nem os israelenses podem continuar sentados interceptando mísseis o dia todo", afirmou Tom Karako, diretor do Projeto de Defesa de Mísseis do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em entrevista ao Wall Street Journal, sublinhando a natureza insustentável da situação.
Israel conta com uma defesa multicamadas, que inclui sistemas como o Iron Dome, David's Sling e Arrow, além de sistemas americanos como Patriots e THAAD. No entanto, a intensidade dos ataques tem mostrado sinais de desgaste nesse complexo sistema.
Autoridades de inteligência israelenses, ouvidas pelo Washington Post, estimam que o Irã possuía cerca de 2 mil mísseis de longo alcance no início da ofensiva. Desde a última sexta-feira, aproximadamente 400 desses projéteis teriam sido lançados contra alvos israelenses. Tel Aviv afirma ter interceptado 120, o que representa cerca de um terço do total disparado. Relatórios do Exército israelense indicam que as defesas aéreas não estão conseguindo abater entre 5% e 10% dos mísseis balísticos iranianos, o que, em um volume tão alto, resulta em impactos significativos. A força aérea israelense também relatou ganhos no controle dos céus sobre Teerã, o que poderia limitar futuras investidas iranianas.
Apesar da alta taxa de interceptação geral (superior a 90% até terça-feira, com 35 dos 400 mísseis iranianos atingindo alvos), os ataques persistem em causar danos consideráveis e perdas humanas. Na noite de sexta-feira, mísseis iranianos conseguiram furar o bloqueio defensivo e atingiram o centro de Tel Aviv, chegando perigosamente próximo ao quartel-general das Forças Armadas (IDF). No domingo, uma grande refinaria de petróleo nas proximidades de Haifa foi atingida, e na terça-feira, vídeos circularam registrando impactos próximos à sede da inteligência israelense, ao norte de Tel Aviv.
A intensidade dos bombardeios, no entanto, parece ter diminuído ligeiramente. O Irã, que lançou mais de 150 mísseis na primeira noite, disparou apenas 10 na tarde de terça-feira, segundo o Washington Post. Contudo, analistas israelenses alertam que mais da metade do arsenal iraniano ainda permanece intacta, e parte significativa pode estar oculta em depósitos secretos, representando uma ameaça latente.
Além do desafio logístico de reabastecer os estoques, o custo da defesa é um fator crítico. Segundo o jornal israelense The Marker, cada noite de interceptações custa cerca de 1 bilhão de shekels — ou R$ 1 bilhão. O sistema Arrow, um dos pilares da defesa de Israel, utiliza mísseis que custam aproximadamente US$ 3 milhões (cerca de R$ 16 milhões) por unidade, conforme o especialista Tal Inbar, da Aliança de Defesa de Mísseis.
Até o momento, o conflito tem um alto preço em vidas. Em Israel, foram registrados 24 mortos e mais de 600 feridos. Do lado iraniano, as autoridades divulgaram que 224 pessoas morreram em ataques israelenses até domingo, com mais de 100 feridos, sendo o último dado disponível. A Rússia, por sua vez, condenou os ataques israelenses e ofereceu-se para mediar um acordo de paz entre as partes, reiterando a necessidade urgente de diplomacia para evitar uma escalada ainda maior.
A situação permanece fluida, com o mundo observando atentamente cada movimento na região, enquanto a capacidade de defesa e a resiliência humana são postas à prova.